quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Dança do Ventre no Terceiro Setor

As artes são sempre citadas como uma forma de inclusão social. Não raro, o balé, a dança contemporânea e, principalmente, a dança de rua figuram entre as principais modalidades exploradas por organizações não governamentais, que têm na arte e na cultura suas principais ferramentas de trabalho. O glamour, o luxo e o brilho muitas vezes espalhados aos quatro cantos por praticantes e escolas de Dança do Ventre acabam tirando do campo de visão de muitos profissionais e possíveis praticantes as possibilidades terapêuticas e principalmente sociais que a dança traz.

Mulheres em condições “normais” já passam por tratamentos diferenciados. Não cabem aqui discursos hipócritas que falam sobre um mundo que vive sob direitos iguais. Mulheres continuam ganhando menos, tendo menos posições em cargos diretivos e, em alguns casos, estudando menos anos na escola. Em camadas bastante privilegiadas da população, a diferença é pequena. Quanto menor o privilégio maior essa disparidade e, com isso, maiores as questões emocionais com as quais são obrigadas a lidar.

A prática da Dança do Ventre reconstrói essa auto-estima ferida pelo tempo e pelas dificuldades da vida. Ao se olhar no espelho ao longo dos minutos de aula é visível no olhar de cada uma a descoberta diária em cada nova ondulação, cada curva e cada batida que seu corpo pode mostrar. É pelo corpo que essas mulheres exprimem, de forma silenciosa, o que uma espécie de mordaça social calou. Seja sua sensualidade, seu espírito de romantismo, seu lado de “moleca brejeira” ou mesmo a sua diva interior. As batidas agressivas viram formas de exprimir seus retornos às adversidades da vida e, aos poucos, o equilíbrio vai voltando a reinar. Mente sã, finalmente, encontra-se com o corpo são.

Os espaços do terceiro setor, que atendem a comunidades carentes, muitas vezes são povoados por mulheres vítimas de violências. Seja violência moral ou física, em ambiente doméstico ou de trabalho, o fato é que a maioria passa por abusos e condições de difícil sobrevivência sadia. Nesses espaços livres, as marcas expostas de seus corpos e de suas almas passam despercebidas por elas mesmas na beleza da sinuosidade dos movimentos, nos redondos de quadris e flutuações de braços. É o momento de esquecer a dor e entender que aquilo que elas vêem no espelho e sentem em seus corações as pertencem e são de seu total domínio.

Nesse formato, elas reagem de forma mais afirmativa como donas de seus corpos, suas mentes e seus destinos. As experiências com a auto-observação e a consciência corporal levam a uma autodeterminação física e intelectual que contribuem para o aumento da consciência de seu papel social como mulher, profissional e, principalmente, como indivíduo atuante em suas comunidades e na sociedade como um todo.

Texto de Bárbara Ladeia
Dançarina e professora de Dança do Ventre da AEB (Associação Evangélica Beneficente)
barbaraladeia@gmail.com

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